Até pouco tempo atrás, a palavra “platô” quando mencionada em um contexto de carreira, poderia ter um sentido de limitação. Hoje, no entanto, há uma visão totalmente diferente, em razão das grandes transformações no mercado de trabalho.

A consultoria Deloitte publicou uma pesquisa em um artigo no jornal Valor Econômico intitulada “Tendência Globais de Capital Humano 2023”, projetando para a próxima década o fim de cargos no mercado de trabalho. O artigo demonstra a transição para um mundo sem fronteiras, no qual a tradicional estrutura de cargos e tarefas bem definidas se tornará obsoleto.

Dos executivos participantes da pesquisa, 93% acreditam que este é o modelo a ser seguido, embora apenas 20% acham que suas organizações estão prontas para esse passo. Uma frase do artigo sumariza bem esse cenário: “No novo mundo sem fronteiras, o trabalho não é mais definido por empregos, o local de trabalho não é um lugar específico, muitos dos colaboradores mais importantes não são funcionários tradicionais e a liderança não é determinada pelo organograma”.

Essa nova realidade traz uma abordagem totalmente diferente no planejamento de sua carreira, mesmo ainda dentro das organizações que seguem os modelos tradicionais. Estamos acostumados com a imagem da difícil escalada de uma montanha, onde cada passo é uma etapa para se chegar ao “pico”.

Hoje você pode olhar o futuro de sua carreira como uma montanha composta de platôs, na qual o objetivo mais importante não é o de escalar o platô mais alto, mas sim encontrar aquele no qual você tenha a realização de seus objetivos, sejam financeiros, de satisfação profissional e pessoal.

Ao chegar em determinado platô, assim como o alpinista monta um acampamento temporário, você pode decidir por construir ali uma confortável casa, que abrigue todos os seus anseios. Isso significa que você irá buscar por mais meios e oportunidades para crescer naquilo que você faz e não necessariamente no cargo que ocupa. É crescente o número de empresas que oferecem ótimas oportunidades de mudanças laterais ou de aumento de responsabilidades, dentro do escopo de suas competências.

O primeiro passo, independente de sua idade e do ponto de sua carreira, é uma profunda análise de seu platô atual. Ouve-se muitos conselhos de planejamento de carreira sempre olhando para o futuro, mas o ponto imprescindível é saber avaliar onde você está.

Essa análise não é complexa, porém deve ser detalhada. Veja, em primeiro lugar, se você gosta do que faz, se o ambiente de trabalho é aquele que você busca (lembre-se de que nunca haverá o ambiente perfeito), avalie o ativo que você já tem em termos de reconhecimento de seus superiores, o network construído dentro de sua própria organização e os resultados positivos que você já alcançou.

Por fim, avalie se o resultado financeiro é compatível com a sua preparação como profissional e se você enxerga oportunidades de crescimento de suas competências e responsabilidades, trazendo um crescimento futuro, com o respectivo aumento de seus ganhos.

Depois de avaliar muito bem esse platô, você terá uma visão clara de que continua no “acampamento” e irá buscar por um platô diferente, ou se vai construir ali uma “casa confortável”, para uma permanência mais duradoura. Lembre-se sempre de que essa construção não depende apenas de sua empresa, mas também de seu esforço pessoal de atingir novos patamares.

Igualmente importante é você avaliar outros platôs disponíveis no mercado de trabalho, porém você terá a desvantagem de não conhecer o ambiente, de começar do zero com seus superiores e de não possuir o network já construído. Você pode, inclusive antever uma “casa” superior no outro platô, e esse será sempre um dilema, para o qual não há uma resposta definida.

Cada pessoa é diferente, o importante é a profunda análise para qualquer decisão, principalmente desprendendo-se de qualquer fator emocional que turve a sua visão do platô atual.

Não raro, profissionais decidem por buscar um platô em uma montanha diferente, quando mudam de profissão ou atividade. Nesse caso, perdem todo o esforço para atingir o platô atual, pois devem descer a montanha e começar uma nova escalada, iniciando do zero, até atingir ali um platô semelhante. Nada é impossível, mas lembre-se de que esse passo necessita sempre de uma reserva financeira para sobrevivência nessa transição, até atingir o outro platô.

A visão de planejamento de carreira em platôs é desprendida de cargos e posições, levando em conta todo um contexto de realização profissional e as oportunidades para o futuro. Atingimos aí uma a visão sem fronteiras, desprendida das “caixinhas” que enxergamos hoje, abrindo uma visão de oportunidades realmente motivadoras, dentro do universo de mudanças que nos esperam nos próximos anos.