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Medindo a resiliência

Para ler o artigo original em inglês, clique em CEO Worldwide

No best seller publicado recentemente, “A Próxima Onda”,  Mustafa Suleyman, autor e cofundador da DeepMind e da Inflection AI,  afirma: “A próxima onda é definida por duas tecnologias principais: inteligência artificial (IA) e biologia sintética. Juntos, eles darão início a um novo amanhecer para a humanidade, criando riqueza e excedentes nunca vistos.”

Mudança de paradigmas

Sem dúvida estamos visualizando um futuro sem precedentes, com mudanças quânticas, quebras de paradigmas e a criação acelerada de novos modelos de negócios. Paradoxalmente, é necessário ao mesmo tempo, desenvolver competências que são seculares. Uma delas é a tão popularmente hoje, chamada de resiliência.

A respeito desse tema, nos últimos anos foram escritos milhares de artigos e livros no mundo inteiro, dando uma roupagem moderna, e até certo ponto sofisticada, quando se trata da vida executiva.

No entanto, vou citar apenas alguns poucos exemplos do quão antigo é esse conceito.

Sócrates ( 470 A.C–399 A.C), em razão de  suas convicções, enfrentou a oposição de vários segmentos da sociedade ateniense. Foi acusado de corromper a juventude de Atenas e de não reconhecer os deuses que a cidade venerava. Levado a julgamento, e foi condenado à morte. Mesmo tendo a oportunidade de fugir não o fez, argumentando que um verdadeiro filósofo não teme a morte.

Harriet Tubman, nascida escrava nos Estados Unidos no século XIX, escapou da escravidão e se tornou uma das mais notáveis condutoras do Underground Railroad, uma rede secreta de rotas de fuga para escravos em busca de liberdade no Norte. Apesar do grande perigo pessoal, Tubman fez inúmeras viagens ao Sul para resgatar outros escravos, guiando cerca de 70 pessoas à liberdade.

Edith Eger tinha apenas 16 anos quando foi enviada com sua família para Auschwitz em 1944. Ela sobreviveu ao campo de concentração, mas perdeu seus pais no Holocausto. Reconstruiu a sua vida nos Estados Unidos, obteve um doutorado em Psicologia Clínica e dedicou sua carreira a ajudar pessoas a libertarem-se de seus traumas e a viverem vidas plenas. Publicou inúmeros livros de sucesso e ainda vive, aos 97 anos de idade.

Sobrevivência

Hiroo Onoda, Tenente do Exército Imperial Japonês, não se rendeu após o final da Segunda Guerra Mundial e continuou lutando na ilha de Lubang, nas Filipinas. Recusando-se a acreditar que a guerra havia terminado, sobreviveu na selva por quase 30 anos, e só se rendeu após seu antigo comandante voar para as Filipinas para oficialmente desobrigá-lo do dever.

Malala Yousafzai, ainda muito jovem, foi baleada na cabeça por um talibã em 2012 por sua campanha contra os esforços para negar a educação para meninas. Após sobreviver ao atentado, Malala tornou-se um símbolo global da luta contra a opressão das mulheres e pela educação. Em 2014,  foi colaureada com o Prêmio Nobel da Paz, tornando-se a mais jovem recipiente na história do prêmio.

Como podemos chamar as qualidades dessas pessoas que passaram por situações tão desafiadoras? Firmeza de propósito, perseverança, fibra de aço, coragem...resiliência?

“Resilenciômetro”

Algo que aprendi, é que não podemos saber se somos resilientes, até passar pelas provas que exijam essa qualidade. Infelizmente não temos à nossa disposição um “resilienciômetro” que possa medir a nossa capacidade dessa competência.

Esse conceito traz à minha mente algumas experiências pessoais. Em uma delas fui contratado para ser preparado para assumir a posição do CEO, que estava prestes a se aposentar. Depois de alguns meses, a vinda de um novo CEO global ocasionou a troca de todos os executivos que haviam me entrevistado, assim como a designação de um CEO para o Brasil. A química com ele foi tão repelente, que eu fiquei sem o meu emprego.

Em outra ocasião em que o país passava por grandes turbulências políticas e econômicas, O CEO mundial da companhia chegou à conclusão de que permanecer com operações no Brasil seria um risco muito alto. A decisão era de encerrá-la. Como eu tinha muita confiança no futuro do país e no potencial do mercado, insisti para que viesse verificar pessoalmente, e ele assim o fez.

Juntos, falamos com clientes, economistas, consulados, especialistas do mercado e até com autoridades em Brasília. No seu retorno, depois de uma ansiosa espera, recebi um e-mail comunicando que a decisão final era a de permanecer no país.

Hoje é uma das empresas líderes no segmento de equipamentos médicos.

Durante essas duas experiências, tive a minha autoconfiança estremecida pelo receio de que meu futuro seria comprometido. Pensava também, que era a pior experiência pela qual eu estava passando. Era difícil pensar em uma saída, e muito menos que eu tinha alguma resiliência. Só com o passar do tempo, olhando para trás, percebi que havia passado pelos testes e sobrevivido. Fui resiliente. Desde então, minha carreira prosseguiu normalmente.

Tenho certeza de que a maioria dos executivos hoje, tiveram experiências igualmente impactantes, e sobreviveram.

Nenhuma das pessoas cujos exemplos citei no início, foram preparadas e treinadas em suas respectivas capacidades de resistência. Tudo só veio à tona, nos momentos de grandes pressões, em que surgiram capacidades talvez até desconhecidas por elas mesmas.

No final, estamos falando de algo muito mais simples e sem complicações: a resistência do ser humano em enfrentar as mais difíceis situações de pressão. Se formos estudar realmente a resiliência, teremos milhares de histórias e exemplos através dos tempos, que facilmente se aplicam na nossa vida profissional.

Mudança

Portanto, o momento para medir a nossa resiliência é o hoje. É pelo enfrentamento de cada crise, de cada mudança brusca de tecnologias que afetarão o nosso futuro, é a quebra de paradigmas, que está cada vez mais frequente nos negócios. É pela forma que lidamos com as frustrações profissionais.

Esses quadros serão mais intensos do que nunca com o cenário descrito por Suleyman. Podemos pensar em nos prepararmos para sermos resilientes, mas ainda assim é um pouco difícil medir a intensidade do próximo desafio.

Enfim, o mais importante é enfrentar o presente, assim como o foi há milênios e aqui exemplificado com alguns poucos exemplos que a História trouxe para esse artigo.

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