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Henry Kissinger e o "Judeu Eterno"

Henry Kissinger foi um dos maiores diplomatas da modernidade, que aconselhou todos os presidentes dos EUA, desde John F. Kennedy até Barak Obama. Faleceu aos 100 anos, em 2023.

Niall Ferguson, seu biógrafo, relada que a família Kissinger conseguiu sair da Alemanha nazista em 1938. Anos mais tarde, o jovem Henry, agora naturalizado e como militar, fez parte das Forças Aliadas que invadiram a Alemanha no início de 1945.

Ao conhecer os horrores dos campos de concentração, Kissinger escreveu o texto “O judeu eterno”. Estava em seus arquivos pessoais até 2015, quando foram doados à Biblioteca do Congresso.

Transcrevo aqui apenas trechos da carta, mas é uma verdadeira ode contra a violência, e um símbolo, para que algo assim jamais se repita.

“Parei o jipe. As roupas pareciam se desprender dos corpos; a cabeça presa por uma vareta do que outrora devia ter sido uma garganta. Varas estavam penduradas dos lados, em lugar dos braços, outras em lugar das pernas. ‘Qual o seu nome?’, e os olhos do homem embaçam e ele tira o chapéu esperando um golpe. ‘Folek… Folek Sama’. ‘Não tire o chapéu, você agora é um homem livre’.

Enquanto eu falava, olho em direção ao campo de concentração. Vejo os barracões, observo os rostos vazios, os olhos sem vida. Vocês estão livres, agora. Eu, com meu uniforme bem passado, não vivi em meio à sujeira e à total miséria, não apanhei nem fui chutado. Que tipo de Liberdade posso oferecer?

Isso é a humanidade no século 20. As pessoas chegaram a tal estupor de sofrimento que vida e morte, vitalidade ou imobilidade não se podem mais diferenciar. Ademais, quem está morto e quem está vivo, o homem deitado cujo rosto agonizante me encara ou Folek Sama, com a cabeça curvada e o corpo emaciado?

Folek Sama, seus pés foram quebrados para que não pudesse fugir, seu rosto parece ter 40 anos, a idade de seu corpo é indecifrável. No entanto, sua certidão de nascimento diz que você tem 16 anos. E eu estou aqui de pé, com minha roupa bem passada e faço um discurso para você e os que ainda estão vivos.

Folek Sama, você é motivo de acusação contra a humanidade. Eu, ‘Joe Smith’, a dignidade humana; todos falharam perante você. Você deve ser preservado em cimento, aqui no alto da colina, para que as futuras gerações olhem para você e reflitam.

Contudo, Folek, você continua sendo um homem. Você está diante de mim e as lágrimas correm em seu rosto. Soluços histéricos se seguem. Pode chorar, Folek Sama, porque suas lágrimas são o testemunho de sua humanidade, porque elas serão absorvidas por este solo amaldiçoado, consagrando-o.

Enquanto existir consciência neste mundo, você a personificará. Nada do que for feito para você, Folek, jamais o poderá restaurar. Você é eterno, neste sentido.”

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