As Ações Estratégicas nas Guerras e nas “Batalhas” de Sua Carreira
Na Segunda Guerra Mundial, uma das armas mais poderosas eram as chamadas Fortalezas Voadoras, utilizadas pelos Aliados no bombardeio de alvos estratégicos do inimigo. Estes pesados aviões com um enorme arsenal, se tornavam armas realmente mortíferas. Um exemplo é o B-24, de fabricação norte-americana numa parceria entre a Ford, a Douglas Aircraft e a North American Aviation.
Esta aeronave que carregavam até 4.000 kg de bombas, além das cabines de metralhadoras no nariz, no bojo e na retaguarda para defesa contra os caças inimigos. O B-25 teve a sua capacidade aumentada para carregar 1.500 kg de bombas, que tinham que ser lançadas com precisão em seus alvos.
A maioria destas missões não era para ajudar na frente de batalha, mas atingir alvos estratégicos atrás das linhas de combate. Um exemplo foi a Oitava Força Aérea dos Estados Unidos, estacionada na Itália, bombardeando alvos na Alemanha e no Leste Europeu. O principal objetivo era a refinaria de Ploesti, na Romênia, que produzia 60% do óleo cru utilizado pela Alemanha. Sabemos que mais tarde, a máquina de guerra alemã parou, pela falta de combustível. Um enorme investimento de recursos e vidas, sem um resultado imediato, mas que ajudou a definir o desfecho da guerra.
Em nossas carreiras, precisamos também ser estratégicos em nossas decisões de longo prazo, sem deixar as prioridades de curto prazo.
O sucesso na carreira não é uma ciência exata e previsível. Conheci profissionais muito bem formados academicamente e que não avançaram em suas carreiras, assim como outros com os mesmos cursos que dispararam em seus objetivos. Da mesma forma conheci outros, graduados em escolas desconhecidas e que foram muito bem-sucedidos. Obviamente há aqueles que tiveram uma formação fraca e uma carreira da mesma categoria.
Que caminho seguir então? Sem dúvidas uma boa formação aumenta as suas chances de chegar onde você quer. Veja que não estou utilizando a palavra sucesso, mas sim, atingir os seus objetivos.
Gosto de pensar no planejamento de sua carreira em quatro vetores que caminham para um objetivo central e devem todos estar em harmonia.
O primeiro vetor é a sua formação acadêmica a longo prazo. Começa com a sua escolha da faculdade e consequentemente da carreira que você escolheu. Continua com cursos de pós-graduação que você faça no decorrer de sua carreira, podendo ser logo após a faculdade ou mais tarde. Geralmente uma pós depois de alguns anos traz melhores resultados, pois você saberá melhor do que precisa e tirará melhor proveito do network.
O segundo vetor é a construção de sua carreira através de sua experiência no mesmo campo de sua formação acadêmica e mantendo-se consistente no tempo.
Estes dois vetores são os de longo prazo e a harmonia de ambos trará muitos benefícios para seu progresso. Isto não quer dizer que você não pode estudar ou trabalhar em áreas diferentes, mas saiba que sempre haverá uma perda em seus ganhos e progresso, se estes dois vetores forem para caminhos diferentes.
Os outros dois vetores são de curto prazo (o equilíbrio dos pratos no ar começa a ficar mais complexo...).
Muita gente acha que apenas a experiência é importante e é aí que vem o terceiro vetor que é a qualidade de sua entrega. Junto com o fator tempo em sua experiência, deve vir a qualidade desta experiência. Ou seja, o seu trabalho deve ser consistentemente de alta qualidade e sempre que possível, superando as expectativas de seus gestores ou das companhias para as quais você trabalha.
Este vetor é eliminatório. Não adianta ter os outros três bem direcionados. Se isto falhar, a sua carreira ficará estagnada. Não raro, para alguns indivíduos este vetor compensa a fraqueza dos outros e eles têm o seu lugar ao sol! Por outro lado, muitos falam em "chegar lá", quando nem mesmo conseguem "chegar aqui".
O quarto vetor é o seu aprendizado para completar as suas competências visando garantir a qualidade da entrega de sua posição atual e eventualmente da próxima que você almeja. Aqui entra um vasto "arsenal" de recursos, cursos e auto aprendizado. Para muitos será a busca de aperfeiçoamento e atualização de conhecimentos técnicos. Para outros será o desenvolvimento de "soft skilks", como melhorar o relacionamento interpessoal, trabalhar em equipe, falar em público, controlar o seu temperamento ou no outro extremo, vencer a sua timidez.
Este alinhamento de vetores pode ocorrer em diversos pontos de sua trajetória. Lembro-me de que aos 33 anos, às vésperas de ir para os Estados Unidos para o meu MBA, por razões que agora não vêm ao caso, eu havia trabalhado em vendas, compras, logística (com cursos de aperfeiçoamento em todas estas áreas) além de um trabalho pro bono com a minha família presidindo uma missão religiosa por três anos. Conclusão: minha carreira havia se tornado uma "miscelânea" de experiências e eu não sabia por onde recomeçar.
Analisando estrategicamente o meu passado e as possíveis oportunidades do futuro, percebi que deste limão eu poderia fazer uma limonada: tinha as habilidades de ser um generalista ao invés de um especialista e o grande desafio seria chegar a uma oportunidade de ser o gestor de um negócio. Nunca vou esquecer a surpresa estampada no rosto de minha esposa, ao voltar do primeiro dia de aula e contar que optei por uma ênfase em finanças no MBA. Ela sabia que eu nunca havia trabalhado na área financeira, porém era a competência que eu ainda não tinha para o meu perfil generalista.
A "limonada" veio quando completei quarenta anos e tive a primeira oportunidade como o CEO de um dos negócios da GE no Brasil. O alinhamento do primeiro vetor, em um novo segundo vetor, trouxe os seus resultados, não sem antes ter que alinhar o quarto vetor dois anos antes da promoção. Meu chefe mostrou que eu cumpria bem a função atual, porém havia muito a ser mudado nas minhas habilidades para liderar um negócio debaixo da gestão de alta pressão de Jack Welch.
Engolindo a minha frustração (você sempre acha que está preparado para tudo), aceitei o desafio e os conselhos de meu chefe e comecei a trabalhar naquilo que eu precisava mudar. Foi apenas depois de um ano que ele deixou um bilhete na minha mesa com um curto recado de que "você está no caminho certo". Passou-se então mais um ano até surgir a oportunidade que eu buscava.
Até aquele momento eu tinha os quatro vetores alinhados, porém começava tudo de novo, principalmente no terceiro vetor, que era manter a qualidade de minha entrega em uma função totalmente nova para mim.
Continuo no esforço deste alinhamento até hoje, na minha "segunda" carreira, após haver deixado a liderança de companhias. Isto nunca para.
Há vários profissionais que "desalinham" estes vetores durante suas carreiras. Tive um funcionário que era um excelente analista e estrategista de marketing, tendo inclusive trabalhado na matriz internacional de uma das companhias que atuou. Cursou a faculdade de Direito após os quarenta anos, abriu um escritório de advocacia e hoje é um advogado muito bem-sucedido. Isto geralmente exige um cuidadoso planejamento financeiro e emocional, mas ele conseguiu fazer a transição, começando tudo de novo nos quatro vetores.
Assim como em guerras, você necessita de constante alinhamento entre as ações de curto e longo prazo. Faço votos de que você se torne um grande estrategista de sua carreira, ao mesmo tempo que execute com perfeição as táticas de curto prazo!