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A Importância de desenvolver resiliência na carreira profissional

Publicado no Diario de Sao Paulo em 22/06/2023

Os dicionários da língua portuguesa dão diversas definições da palavra resiliência, definindo-a do ponto de vista mecânico, da física, da biologia, da psicologia, entre outros.

Aquela que mais se adequa ao nosso assunto, é descrita no sentido figurado como “capacidade de agir ou superar contrariedade ou situação de crise, faculdade de quem consegue lidar de forma positiva com fatores ou condições adversas.”

Esa definição se adequa a qualquer profissional, de qualquer área, pois quem não lida em algum momento, com essas situações?

No entanto, se existisse um “resilienciômetro”, veríamos pessoas nos mais diversos pontos da escala, sendo que esse é um dos aspectos de maior importância no progresso de sua carreira, ou mesmo dos desapontamentos.

Sempre que nos referimos a resiliência, temos em mente a forte resistência a um fator externo, como as condições da economia, transformações drásticas de mercado, uma chefia com a qual temos problemas, reestruturações, desemprego etc. Parece que a solução é construirmos um “muro de resistência”, mas pergunta é: como construímos esse “muro”?

T.A Shippey citou que "Todos reconhecemos, pelo menos nos nossos melhores momentos, que muito dano provém das nossas próprias imperfeições, por vezes terrivelmente ampliadas...".[i] Isso significa que a nossa resiliência começa em primeiro lugar dentro de nós mesmos, para então estarmos preparados para a resistência exterior.

Um indivíduo com grande dificuldade de controlar as suas próprias emoções, dificilmente terá a capacidade de criar resiliência a um relacionamento difícil com o seu chefe, seu par, ou até mesmo com um cliente. O desenvolver da paciência não se aprende nos livros, mas vivendo situações que requeiram muita paciência. É daí que vem o verdadeiro treino.

Por essa razão, é que momentos de grande pressão são iguais ao fogo que tempera o aço, tornando-o resiliente no sentido da física. O mesmo acontece com o nosso dia a dia profissional. Não é fugindo dos problemas que criamos essa resiliência, mas sim enfrentando as altas temperaturas dessa “prova de fogo”, que nos faz literalmente suar emocionalmente e mentalmente. Com o baixar da temperatura, é que vemos o quanto crescemos. O aço foi temperado.

Portanto, não há uma fórmula mágica você ser mais resiliente e ter maiores defesas, trazendo proteção contra os momentos mais amargos. É justamente o oposto. Através de tentativas e erros, colocar-se em situações de difíceis tomadas de decisões, de desafios que sejam colocados em suas mãos, de reviravoltas do mercado, é que a resiliência será desenvolvida.

Aqueles que fogem de expor-se a essa “têmpera”, ficarão para sempre com sua resistência fragilizada.

Outra situação pessoal de resiliência, é quando precisamos manter a nossa bússola moral e ética, apontando sempre para o norte correto, sem deixar-se levar por “forças magnéticas” que desviarão os ponteiros dessa bússola para situações totalmente indesejáveis.

É dessa forma que se iniciam todos os escândalos corporativos, fraudes contábeis, desfalques, que são vastos nas notícias de hoje. Até mesmo atos que julgamos pequenos e que eventualmente estarão invisíveis.

Esse tipo de resiliência é extremamente importante, pois o nome e a reputação é o maior patrimônio de um profissional. Nesse caso, a solução é oposta ao conselho anterior: não se expor a situações duvidáveis, mas estar o mais longe possível delas, até mesmo nas aparências.

É enganoso pensar que a necessidade de resiliência vem apenas em momentos difíceis. As condições adversas destacadas no dicionário podem vir em momentos de muito conforto. Por incrível que pareça, é necessária a resiliência ao sucesso.

Quando estamos em evidência, podem vir novas oportunidades de emprego muito tentadoras, mas, que sem a própria e profunda análise, estaremos comprando um presente muito atrativo com o custo de um futuro sólido. Com todas as atuais e modernas técnicas de gestão, ainda vemos um imenso número de gestores ditatoriais, que não souberam ter resiliência ao seu próprio progresso, criando estilos de relacionamento muito diferentes daqueles com os quais iniciaram suas carreiras.

O excesso de autoconfiança, pode cegar o nosso discernimento a respeito de quais batalhas valem a pena serem lutadas, de quando avançar, de quando manter o status quo de uma situação, ou até mesmo de quando recuar.

No tempo das caravelas, a calmaria podia ser tão mortal quanto uma tempestade. Um tipo importante de resiliência, é aquela que precisamos desenvolver contra situações de total acomodação, da prolongada rotina de uma função ou cargo, aliadas à falta de perspectiva futura. Um espírito resiliente, não só cria resistência nas dificuldades, mas de inquietação, quando tudo está calmo demais.

Finalizando, as sábias palavras do filósofo chinês, Confúcio: "Nossa maior glória não está em nunca cair, mas em nos levantar sempre que caímos."

[i] T.A Shippey, J.R.R Tolkien, Author of the Century (Boston: Houghton Mifflin, 2000, 142 (tradução livre)

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