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A IA é ótima, mas...e as pessoas?

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Anos atrás, quando trabalhava na GE, em uma reunião de liderança global, tive a oportunidade de conhecer o VP de Tecnologia de todo o grupo, uma das grandes potências na ocasião. No mesmo período, meus filhos estavam na fase de buscar os seus caminhos profissionais. Aproveitei então a ocasião, para perguntar como ele via as profissões no futuro e que conselho daria aos próprios filhos.

Direcionando a pessoas

Depois de uma longa pausa, onde seu pensamento pareceu fazer uma profunda introspecção, olhou-me nos olhos e disse: “Direcione os seus filhos para trabalharem com pessoas, pois no futuro haverá um foco tão intenso em tecnologia, que faltarão pessoas para saberem lidar com pessoas, em razão dos desafios que a própria tecnologia trará.”

Confesso que fiquei muito surpreso ao ouvir isso de um dos mais prestigiosos líderes de tecnologia da época, mas, após cerca de 25 anos dessa afirmativa, vejo como as suas palavras foram proféticas.

Em qualquer fonte de pesquisa atual sobre o foco de CEO´s ou de companhias, o uso da IA está no topo de todas as prioridades. Interessante que, não tenho visto o assunto pessoas fazer parte de pelo menos das primeiras posições nesse ranking.

Com certeza, a tecnologia trará benefícios inimagináveis, não apenas nos negócios, mas no quadro geopolítico global, pois pesquisas nessa área têm recebido pesados investimentos em países como China e Rússia, na busca da vanguarda tecnológica.

Uma recente pesquisa da McKinsey & Company em 63 companhias globais avaliadas, mostrou que a IA regenerativa poderá trazer um valor agregado entre 2,6 a 4,4 trilhões de dólares nas próximas décadas.

Enfrentando os desafios

Para enfrentar essa realidade, o desafio será de como os líderes e pessoas enfrentarão essas gigantescas mudanças.

Estamos apenas nos primeiros passos desses avanços, e já vemos pesquisas como a publicada na CEOWORLD Magazine, na qual a OpenIA está na lista das companhias mais odiadas nos EUA em 2023. Isso, em razão da eliminação de 4.000 empregos apenas naquele país, causados pela IA e o ChtatGPT. A Goldman & Sacks também divulgou um relatório estimando que 300 milhões de empregos serão eliminados globalmente.

Em paralelo com toda essa tecnologia, o grande foco deve ser em como preparamos líderes e pessoas para essas transformações. Será importante a capacitação para rápidas reorganizações, mantendo elevado o moral e a motivação. A tecnologia é sim um fenômeno, mas são as pessoas que a implantarão e não os robôs.

O discernimento ético passará a ser uma competência essencial, pois mais do que nunca serão enfrentados desafios como a possível invasão de privacidade das pessoas, uso inadequado de informações, apropriação de tecnologias de concorrentes, entre muitos outros. Um dos assuntos mais populares é o tipo de inteligência e processo decisório usados nos carros autônomos. O que poderemos ter como grandes benefícios da IA, poderão se tornar grandes passivos das companhias, perdendo toda a sua produtividade no pagamento de pesadas perdas nos tribunais.

Princípios éticos

O Professor Stuart Russel, professor de ciências de computação da Universidade da California em Berkeley, faz ponderações importantes em seu livro “Inteligência Artificial a Nosso Favor””, mostrando que o comportamento das máquinas e robôs serão sempre programados de acordo com o caráter de quem os criará. Dessa forma, os princípios éticos, ou a falta deles, realmente dominarão o nosso futuro.

Precisaremos de líderes que antevejam as mudanças que ocorrerão, e preparem pessoas para novas funções e transições repentinas de carreira. Líderes que criem mentalidades e processos para garantir que pessoas continuarão sendo o grande ativo das companhias, e não apenas tecnologia.

Um rápido WIP (Work in Process)

Agora é um momento de união de esforços profissionais e acadêmicos, para desenhar o perfil de líderes para o momento que se aproxima, e treiná-los, pois, teorias baseadas no passado ficarão rapidamente obsoletas. Será uma experiência pioneira em que se planejará o futuro cenário, para só então estabelecer o perfil de líderes necessário.

Russel traz uma frase muito sugestiva: “Precisaremos nos tornar muito bons em sermos humanos”. Continuando, Russel cita John Aoun, Presidente da Northeastern Univerisity, o qual disse que as universidades deveriam estar ensinando “humânica”, ou seja, essa disciplina traria “uma melhor compreensão de como a mente humana funciona nos níveis cognitivos e emocional...de arquitetos de vida, para ajudarem as pessoas a planejarem a trajetória de sua vida...aprimoramento da curiosidade e resiliência pessoal”.

Russel arremata com o comentário final: “Sem essa reformulação, corremos o risco de um nível insustentável de perturbação socioeconômica.”

Portanto, o quanto antes chegar nas corporações o foco em preparar pessoas, e não apenas a tecnologia para o futuro, maiores serão as chances dessas transformações drásticas serem implementadas com sucesso.

Posso ver agora o quão assertivo foi o conselho do VP de Tecnologia de anos atrás. Se ele tivesse escrito um livro a respeito, teria sido um best-seller como um visionário de cenários futuros.

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