Por que a ética é importante na liderança executiva
Publicado em CEO Worldwide em 18/04/2023
No mundo de hoje, a ética nos negócios é importante em qualquer circunstância, mas nas crises ou recessões, se torna um ativo. Confiança e confiabilidade são fatores-chaves para se construir parcerias comerciais duradouras.
O relatório de 2022 da Transparency International, que classifica 180 países em um índice de percepção de corrupção, mostra que os países estão lutando para acabar com a corrupção. Em outras palavras, as empresas que lidam com governos encontrarão um desafio cada vez mais difícil de fazer negócios, pois essa tendência permeia o setor privado.
Comportamento
Para prosperar em tal ambiente, tudo começa com o líder de uma empresa, tanto com o comportamento externo quanto com o interno. Uma forte posição ética nem sempre traz negócios, mas no geral, o efeito é sempre positivo.
Lembro-me de uma experiência em que me apresentei a um secretário de saúde para falar sobre o fornecimento de equipamentos médicos. Fiz com que ele soubesse que qualquer tipo de vantagem seria oferecida exclusivamente ao governo. Como resultado, não tive nenhum negócio feito com aquele município durante aquela gestão.
Anos depois, esse mesmo secretário tornou-se CEO de um importante hospital do país. Para encurtar a história, conseguimos quebrar um predomínio de quarenta anos de um concorrente e vender equipamentos para aquele hospital. A confiança foi o ponto chave.
Consistência
O comportamento de um líder deve ser consistente em qualquer circunstância. Dentro da alta administração, as questões éticas devem ser discutidas com frequência e fazer parte das preocupações do dia a dia de fazer negócios e alcançar resultados.
Esse tipo de exemplo de cima para baixo se incorporará à cultura da companhia e a disposição para um comportamento adequado atingirá todos os funcionários. Já vi muitas empresas com códigos de ética elaborados e ferramentas de treinamento sofisticadas, mas nas quais tudo era feito como uma simples tarefa, e não como um aprendizado genuíno, uma experiência prática.
A alta administração conduz essa cultura e, assim, constrói uma liderança moral inquestionável. Ao mesmo tempo, qualquer inconsistência entre palavras e comportamento mina a confiança nessa liderança. Um julgamento pessoal adequado para decisões corretas torna-se uma segunda natureza, diante de situações duvidosas no código de ética.
Cultura
Essa cultura será expandida para o relacionamento com os clientes em todas as áreas e, às vezes, realidades difíceis serão enfrentadas. As margens podem ser afetadas para se manter uma decisão sincera e honesta. Infelizmente, essa é uma área em que, muitas vezes, as opções se voltam para resultados financeiros em vez de resultados éticos e adequados.
Em outra ocasião, ao assumir o cargo de novo CEO, visitei um cliente que apresentava sérias reclamações sobre a qualidade de alguns equipamentos pesados que nossa empresa havia vendido. Na reunião, do nosso lado tínhamos técnicos com pilhas de documentação para demonstrar todas as ações corretivas tomadas. Do lado do cliente, pilhas de pastas com documentação a ser enviada à Justiça para processar nossa empresa.
Por meio dessa reunião, pela primeira vez realmente entendi toda a situação e concluí que o cliente estava certo.
Depois de momentos de silêncio pesado, eu simplesmente disse: “OK, vamos substituir o equipamento.” Enquanto minha equipe absorvia o choque (para seu alívio), o cliente também reservou um tempo para olhar em volta e dizer: “OK, essa reunião acabou”.
Na saída, fomos convidados para uma reunião que acontecia ao mesmo tempo, em uma sala ao lado, com fornecedores para receber as especificações de um novo equipamento a ser adquirido. Não havíamos sido convidados anteriormente para aquela reunião.
Foco em resultados
Meu antecessor naquela empresa agia dentro do mesmo código de ética que eu tinha, e as decisões eram pautadas pelo forte foco em resultados, o que pode ser uma armadilha para um relacionamento duradouro com os clientes.
Questões de qualidade não devem ser resolvidas em tribunais. Longas discussões não devem ser permitidas quando a empresa oferece qualidade inadequada em qualquer área da cadeia, seja vendas, manufatura, planejamento ou serviços, o que seja.
Muitas grandes corporações parecem ter construído muros entre todos os esforços feitos para crescer, ser competitivos, aumentar o valor das ações e uma atitude e comportamento ético em todas as áreas. Não é à toa que vemos reputações mundiais de grandes corporações, construídas em décadas, cair como um castelo de cartas em questão de dias.
Ao sair das empresas que liderei, mantive fortes laços de amizade com antigos clientes. Ironicamente, não eram aqueles com relacionamentos comerciais perfeitos ou que não tinham reclamações, mas clientes importantes que tinham sérios problemas de qualidade, quase a ponto de causar rupturas. A transparência, o reconhecimento dos erros e o esforço conjunto para resolvê-los construíram uma relação de confiança, seguida de uma amizade que ultrapassou as fronteiras dos negócios.
Ritmo
O exemplo do líder dita o ritmo das decisões em todas as outras questões delicadas que exigem comportamento ético, como negócios com órgãos governamentais, procedimentos de compra e venda, respeito às leis antitruste, total transparência nos relatórios financeiros e muitas outras áreas. É assim que se forma uma reputação forte de uma empresa no mercado, sendo plenamente possível alcançá-la sem prejudicar a lucratividade; o efeito é geralmente o oposto.
Ouvimos declarações de expertise de altos executivos, seja em recuperação de lucratividade, manufatura, marketing, finanças ou liderança. Não ouvimos os líderes dizerem “sou bom em ética”. A razão para isso é muito simples; é porque essa não é uma mensagem que alguém diz por meio de palavras, mas que deve ser transmitida por meio de comportamento para mostrar esse tipo de “expertise”.
No atual ambiente mundial, a dificuldade de se fazer negócios em áreas governamentais e no setor privado, tendo a ética como marca pessoal, constrói-se uma reputação imbatível.