O que há de novo sobre Inteligência Emocional?
Quando, em 1995, Daniel Goleman, jornalista e pesquisador cientifico escreveu o livro Inteligência Emocional, foi muito feliz em trazer um novo parâmetro junto com o conhecido QI (Quociente de Inteligência) na avaliação e comportamento das pessoas. Na realidade, abriu a cortina das emoções, no palco de nossa atuação profissional.
Hoje a sigla IE domina as preocupações corporativas e individuais na busca de melhores resultados e desenvolvimento pessoal. Antes disso, os assuntos que dominavam a busca de aperfeiçoamento nessa área eram temas como autocontrole, disciplina, equilíbrio, etc.
Poderíamos montar aqui uma enciclopédia de citações sobre o assunto, mas permitam-me fazer uma breve viagem no tempo.
Dale Carnagie, famoso autor dos anos 30, 40 e 50, cujos best-sellers estão até hoje nas livrarias citou: "Uma parte vital da fórmula da felicidade é a autodisciplina. Quem conquista a si mesmo conhece uma felicidade profunda que enche o coração de alegria". Norman Vincent Peale, autor e palestrante da mesma época questionou: "O ciclone deriva seus poderes de um centro calmo. O mesmo acontece com uma pessoa?"
Indo para trás na história, temos uma famosa frase de Shakespeare que diz: "A raiva é um veneno que bebemos esperando que os outros morram“. Aristóteles deixou um pensamento muito atual com a frase: "Qualquer um pode zangar-se - isso é fácil. Mas, zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa - não é fácil."
Finalmente, a antiga sabedoria bíblica do livro de Provérbios escrito por volta do ano 900 AC e supostamente atribuído a Salomão nos diz: "Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade" (*)
Enfim, o que estamos vendo aqui, sob diversas roupagens, é um dos maiores desafios desde os primórdios da civilização, que é o controle das emoções humanas. Em seguida a pergunta: como posso ajudar nesse assunto se não sou um psicólogo ou especialista neste tema?
Simplesmente trazer o fruto de minha observação do ambiente de trabalho através dos anos e concluir que cada um de nós tem um limite, perigoso de ser cruzado. Assim como o lema dos Alcoólicos Anônimos é o de diariamente evitar o primeiro gole, assim também temos que identificar os primeiros sinais de nossos limites, antes que entremos em uma "embriaguez emocional".
Para cada um de nós esse limite pode ser cruzado em diferentes situações e isso é muito individual. Para alguns é ser questionado em público em uma reunião ou quando a nossa chefia nos critica e traz "sugestões". Também em uma situação contrária, quando o mau desempenho de um funcionário nos irrita, ou quando temos que conviver com um gestor muito difícil para nós.
Pode vir de situações auto impostas, como quando não atingimos os resultados esperados ou queremos que tudo seja perfeito. Um grande desafio é deixarmos a emoção dominar em uma discussão pragmática de negócios ou quando trazemos para o trabalho o reflexo de problemas pessoais.
Tão importante quanto os atos emocionais é a aparência dos mesmos. Certa vez um membro de meu time disse: "Chefe, a gente sabe que você não desrespeita ninguém nas reuniões, mas fica claro que "vem chumbo" nas decisões no momento em que o seu rosto fica ligeiramente vermelho e uma veia salta levemente em sua testa...". Sendo de compleição clara e calvo há muitos anos, era "traído" por esses sinais.
As pessoas que convivem conosco de maneira constante, acabam captando sinais do “chumbo” que vem. Alguns dos exemplos que pessoalmente presenciei foram o tamborilar com os dedos na mesa de reunião, uma forma diferente de franzir a testa, coçar a cabeça repetidas vezes, sair para fumar, responder a uma afirmativa começando com um...”veja bem...”. Tive uma diretora de RH que cada vez que ela fazia um “coque” com o cabelo, ou o prendia atrás com um elástico, algo estava para vir, e não seria agradável. Os “maneirismos” são incontáveis e todos nós os temos, mas estes sinais vinham antes de uma crise, sem que necessariamente fossem de pessoas “explosivas”. Muitas vezes seguramos a represa das emoções, mas de alguma forma nosso corpo fala mais alto.
O que há de "novo" sobre Inteligência Emocional? É o reconhecimento de se tratar de um dos mais antigos desafios da humanidade, sem ainda obter todas as respostas. Porém, ao conhecer bem os seus limites e parar antes de cruzá-los, você sentirá um grande progresso, antes que “o seu chumbo” liberte todas as suas emoções no momento e local errados e muitos relacionamentos serão destruídos em segundos.
(*) Provérbios capítulo 16, versículo 32, Velho Testamento, Bíblia