Nos Conflitos ou nos Negócios – A Ética tem Limites?
O final da Primeira Guerra Mundial, foi um dos poucos conflitos desta envergadura que teve um final “anunciado”. Geralmente as guerras terminam com a capitulação de uma das partes, na diplomacia ou na força, quando o país perdedor é completamente dominado.
Neste caso, a guerra terminou exatamente no décimo primeiro mês do ano de 1918, no dia 11, às 11 hs, porém o seu final foi comunicado à toda linha de frente, dias antes, no dia 7 de novembro. Ou seja, a guerra não terminaria naquele momento, porém quatro dias mais tarde. Como agir então nestes dias? Parar com tudo e esperar? Continuar lutando?
Na realidade esta decisão ficou nas mãos dos oficiais, de ambos os lados, que estavam nas trincheiras. Um grande número percebeu que não havia mais necessidade de derramamento de sangue e perda de vidas. Infelizmente, também um grande número, decidiu por lutar até o último minuto, pela pura obediência à data fixada, porém sem um propósito específico, pois a guerra, depois de quatro anos muito sangrentos em muitos países, já estava decidida.
Este fato desperta uma interessante discussão sobre Ética. Aqueles que continuaram lutando e matando (ou sendo mortos), estavam agindo dentro de uma “ética legal”, pois a guerra ainda não havia terminado. Porém, quando examinamos os mesmos fatos debaixo da “ética moral”, percebemos que a natureza humana destrutiva e depredadora foi a dominante naqueles que continuaram a lutar. Estavam errados? Legalmente não. Estavam certos dentro de uma ética moral? Definitivamente não!
Este tipo de dilema sempre acompanhou o ser humano e isto não é diferente no ambiente de trabalho. Há muitos atos que praticamos que estão totalmente dentro da legalidade, mas que ferem a ética moral. Com as suas ações a pessoa não tem nenhuma penalidade por ter quebrado uma lei ou algum procedimento, porém moralmente comete pesadas faltas.
Em minha carreira, presenciei muitos episódios nesta segunda categoria e posso aqui listar alguns: a maneira de dispensar funcionários em um momento de grande trauma, ou até mesmo a falta de um critério transparente para estes tipos de decisões, fornecedores que tornam os seus negócios inviáveis pelo domínio e pressão nos preços de um cliente majoritário, contratos leoninos em que um lado sempre perde, promoções totalmente baseadas em preferencias pessoais sem levar em conta a meritocracia, a falta de comunicação em ações drásticas que a alta gerência precisa implantar, a forma que gestores tratam seus subordinados.
Esta lista pode ser infindável e mostra que o simples fato de estarmos protegidos pelo “chapéu” da legalidade, podemos estar totalmente descobertos de uma ética moral. É desta forma que líderes pedem a sua liderança moral, carreiras são pesadamente prejudicadas e percebemos o quanto falta de bom senso e de capacidade de se tomar decisões corretas e ponderadas.
Decerto, se algum soldado da guerra mencionada no início ganhou alguma medalha quando sabia que a guerra estava terminada, assim também recompensas pessoais derivadas de ações que carecem de ética moral em uma companhia, trazem um gosto muito amargo de sua ilusória conquista.