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ESG e o Alicerce da Ética

Artigo publicado na RHevistaRH em 5/5/2022 (https://www.rhevistarh.com.br/portal/esg-e-o-alicerce-da-etica/)

Nos últimos anos a sigla ESG (no inglês Environment, Social e Governance) ganhou relevância no mundo inteiro, especialmente no Brasil, onde um número crescente de companhias busca se adequar às normas e métricas não financeiras e tornar público o seu desempenho nas áreas ambiental, social e de governança. Aos poucos, este tripé de conceitos tem substituído o que há anos se falava sobre sustentabilidade.

Em agosto de 2019, a Business Roundtable, associação que reúne as maiores corporações dos Estados Unidos, lançou um manifesto assinado por 181 CEOs de grandes empresas americanas reafirmando o compromisso dessas companhias com todos os seus stakeholders (público estratégico) e com o bem-estar social. Segundo relatório da consultoria e auditoria PwC, 57% dos ativos de fundos mútuos na Europa estarão em investimentos que consideram os critérios ESG até 2025, o que representa cerca de US$ 8,9 trilhões. Além disso, 77% dos investidores institucionais pesquisados pela PwC disseram que planejam parar de comprar produtos que não sigam o padrão ESG nos próximos dois anos.

Em minha visão, ética é o princípio que forma o alicerce nas três áreas, pois o(a) gestor(a) ou companhia que sempre teve ações profundamente comprometidas com um comportamento honesto terão normalmente uma forte preocupação com o meio ambiente, com o impacto social no sentido de direitos humanos, respeito às leis trabalhistas, diversidade, satisfação do cliente, etc. Ao mesmo tempo, tem de trabalhar com um rígido processo de governança, onde práticas anticorrupção já são parte de sua rotina, assim como a transparência de dados, canais de denúncias de assédio, etc.

Por outro lado, é simplesmente incrível como tudo aquilo que se torna público e é medido, logo se transforma no propulsor das ações de um gestor fazendo com que muitas práticas, antes ignoradas, passem a fazer parte de seu dia a dia.

Isso me faz lembrar do Mito do Anel de Giges, descrito no livro República, de Platão, onde em um diálogo, Glauco e Sócrates mencionam a história de um pastor que tem acesso a um anel que, quando colocado no seu dedo, tem o poder de tornar invisível. A narrativa descreve tudo o pastor faz quando tem total certeza de que todas as suas ações passam despercebidas e não atingem a sua reputação.

A grande discussão que o Anel de Giges traz é até que ponto o comportamento do indivíduo é moral e justo, por ser público, e qual seriam suas ações se absolutamente ninguém visse o que estivesse fazendo. Podemos ver dois exemplos extremos de um comportamento coletivo: no blackout de Nova York de 1977 ocorreram centenas de saques e roubos de lojas, por pessoas que se aproveitaram do grande apagão de energia. Já o tsunami que em 2011 atingiu a cidade de Tohoku, no Japão, destruindo também a usina nuclear de Fukushima, provocou grandes reflexos na população. Mas as lojas e supermercados que não foram destruídos ficaram intocáveis, com todas as suas mercadorias nas prateleiras. Como se pode ver, não precisaram do Anel de Giges.

Em um mundo utópico, no qual todos os indivíduos e companhias fossem 100% éticos, ao se lançarem métricas para medir o modus operandi na questão do ambiente, ao social ou à governança, estaríamos falando apenas em listar o bom desempenho em todas as áreas. No entanto, ao se “tirar o Anel de Giges” e tornar as práticas públicas, vemos que há muito ainda a melhorar e conceitos antes não medidos, passam a incomodar.

Toda e qualquer mudança começa sempre com as ações individuais. Esta é a menor célula, que vai transformar toda uma companhia na coletividade e até mesmo o país. Não há dúvidas de que o grande alicerce para este progresso vem de um comportamento ético em todas as frentes de ação de um negócio, guiado pelo exemplo de seus líderes.

Quando esta bússola norteia as decisões em todas as áreas de influência de uma companhia e se busca as melhores marcas possíveis no ESG, não haverá surpresas ao “se tirar o Anel de Giges”, pois as ações e comportamentos serão os mesmos, que já estarão consistentes com a cultura dominante de uma organização.

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