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A espiritualidade e a saúde emocional nas batalhas de sua carreira

Philip Kotler continua sendo o grande “guru” de marketing há muitas décadas. Lembro-me estudando esta matéria através de seu livro, em meu MBA, ainda jovem. No decorrer de minha carreira, não perdia a oportunidade de ouvi-lo presencialmente, quando vinha ao Brasil.

Em 2010, junto com mais dois autores (Kartajaya e Setiawan) escreveu um livro identificando as novas tendências de marketing, lançado no Brasil no mesmo ano e com o mesmo nome original,  “Marketing 3.0”. Alguns trechos que me chamaram a atenção com relação ao tema deste artigo são:

“...A necessidade espiritual é o maior motivador da humanidade, que libera a mais profunda criatividade humana”. Mais adiante cita Robert William Fogel, Nobel de Economia, que “...afirmou que a sociedade hoje está cada vez mais em busca de recursos espirituais, acima até mesmo da busca de satisfação material...”. Continuando a explicar como os consumidores buscam experiências que toquem seu lado espiritual, Kotler arremata: “Proporcionar significado é a futura proposição de valor do marketing”.

Em um aparente paradoxo, com todo o avanço da tecnologia em todos os setores, vemos a tendência de busca de valores espirituais.

Victor Frankl, em seu famoso livro “Em busca de sentido”, inspirado em suas experiências como prisioneiro em um campo de concentração na Segunda Guerra Mundial diz: “...Se há, de algum modo, um propósito na vida, deve havê-lo também na dor e na morte... Mas pessoa alguma pode dizer à outra o que é esse propósito. Cada um deve descobri-lo por si mesmo...Se tiver êxito continuará a crescer apesar de todas as indignidades...”

Tenho visto a grande diferença na saúde emocional e no enfrentamento de desafios e dificuldades profissionais, com pessoas que desenvolvem esta espiritualidade e encontram o seu propósito. Com certeza há influência em todas as áreas e competências, mas onde vi os maiores efeitos foi no aumento substancial na capacidade de resiliência.

O exemplo mais vivo que me vem à mente é o de Boris Risnic. Ocupava a posição de Diretor de Segurança da Otis, posição esta, neste setor, de grande pressão, pois acidentes fatais podem ocorrer. Durante todos os anos que convivi com o Boris, nunca o vi perder o seu bom humor, mesmo nos momentos mais difíceis tanto profissionais como pessoais. Seu sorriso e otimismo eram radiantes. Não haviam os “maus dias”. Certo vez perguntei como ele conseguia ser assim. Como resposta me disse que era frequentador e seguidor do budismo e esta crença dava o alicerce de que precisava.

Elbio Fernandez Mera, como empresário, foi outro grande exemplo para mim. Em meio à maior crise do mercado imobiliário sofrida entre 2014 e 2018, lidando com processos trabalhistas de má fé, achaques de fiscais corruptos que se vingavam de suas negativas e muitos outros obstáculos, em situações que muitos perderiam totalmente o controle, Fernandez dizia ...”meu jovem (chamava a todos assim), não leve isto para o seu fígado...”. Nunca o vi desanimado ou sem entusiasmo. Católico praticante, mantinha em sua sala a “leitura do catecismo” semanalmente, com outros colaboradores que quisessem participar. Estudioso de vários outros assuntos de cunho espiritual, constantemente compartilhava comigo suas crenças e teorias ligadas à física quântica. Sempre vi o Fernandez como alguém que encontrou o seu propósito e sentido.

Seja qual for a filosofia, crença, religião, ou qualquer outro caminho semelhante, sempre representará um alicerce seguro, sobre os qual todos outros valores se assentarão. Se qualquer outra área de sua vida estremecer, este se manterá firme e o ajudará a sobreviver e ultrapassar os momentos mais difíceis.

Nas diversas reviravoltas econômicas e planos de governo pelos quais passei, com momentos muito conturbados e de grandes reestruturações, vi as mais diversas reações no momento de excelentes profissionais perderem seus empregos. Ironicamente, aqueles cujo único propósito em suas vidas era o trabalho, que eram os últimos a sair do escritório já à noite e eram os primeiros a chegar no dia seguinte, e que não tinham espaço para mais nada em suas vidas, foram os que percebi que tiveram os maiores traumas nestes momentos difíceis, precisando inclusive de ajuda psicológica.

Há uma grande diferença em agarrar-se na corda do espiritualismo quando você está caindo no abismo (ainda assim muitos se beneficiam destas “viradas” em suas vidas, devido ao desespero), e uma busca constante e recompensadora de um alicerce espiritual, sobre o qual os tsunamis da vida não terão força para leva-lo ao abismo.

No avanço das tendências identificadas por Kotler, quiçá no futuro, alguns destes alicerces serão também citados em currículos, abrindo um pouco mais de conhecimento dos valores dos candidatos a um emprego. Hoje, isto parece ser sem importância, em segundo plano, ou até dispensável ou discriminatório nas crenças de alguns, mas que são a razão de grande parte da saúde emocional saudável e equilibrada observada nos ambientes de trabalho.

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