Negação
Certo dia, ainda criança, encontrei uma coleção de revistas uruguaias com o nome “Mondial”. Ali estavam edições mensais durante todo o período da Segunda Guerra Mundial, que meu pai recebia. Interessava-me mais pelas fotos, mas tive os primeiros contatos com os horrores de uma guerra, pois vinham das frentes de batalha.
Depois de meses de folhear as revistas com muita curiosidade, deparei-me com uma edição especial. Com poucos textos, a publicação era um testemunho fotográfico do que as tropas aliadas encontraram ao entrar em campos de concentração e extermínio nazistas. Ao vê-la em minhas mãos, minha mãe imediatamente tirou-a de mim, dizendo que era “algo muito forte para crianças”.
Foi tarde demais, pois eu já a tinha visto de capa a capa, mas aquelas imagens ficaram cravadas na memória de um garoto de sete anos e me acompanham até hoje. Eu estava olhando algo que só mais tarde recebeu o nome de Holocausto.
O livro “Negação”, foi escrito por Deborah Lipstadt. A autora já havia produzido uma obra sobre as tentativas de se negar o Holocausto, na qual mencionava o famoso escritor e historiador inglês David Irving como uma das grandes porta-vozes dessa negação.
Ocorre então algo totalmente inusitado. Irving decide processar Lipstadt por difamação em um tribunal inglês, onde é a defesa que apresenta as provas da acusação. Sendo cidadã americana, a acusada é obrigada a agir através de um procurador e um advogado inglês.
Entra assim em julgamento a existência do Holocausto, no qual Irving, pessoalmente, ocupa o lugar da promotoria. Há um longa com o mesmo nome, porém o livro é muito mais profundo nas provas e contraprovas, em diálogos eletrizantes.
Não pude deixar de lembrar das imagens documentais de minha infância. Refleti sobre o disparate e a ousadia daqueles que tentam negar aqueles horrendos fatos.
Uma excelente leitura.