Dilemas Executivos
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Há centenas de especialistas nesse assunto, que desenvolveram os mais variados temas e recomendações a respeito do tão desejado equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Não me sinto à altura de adicionar mais nada ao que já foi escrito, pesquisado e publicado.
Por essa razão, esse artigo se resume a experiências e perspectivas pessoais, que talvez possa ajudar a outros, através dos meus erros e acertos.
Desafios
O exemplo mais impactante que tive a respeito desse dilema, veio de uma experiência que tive quando CEO de uma companhia. Estava enfrentando naquele dia um grande desafio, ao qual estava me dedicando desde as primeiras horas da manhã. Já eram 19:00 hs, e quando eu achava que levaria mais duas horas para resolver o problema, recebi um telefonema de minha esposa.
Algo estava ocorrendo em casa em que minha atenção era necessária com urgência. Não se tratava de nenhuma emergência de saúde, ou algo do gênero. Simplesmente minha presença era necessária lá. Com o pensamento de que não era algo tão grave, lembro-me do sentimento de culpa, ao girar a chave para fechar a gaveta de minha mesa, e sair quando para mim, estava em meio a um verdadeiro caos.
Administrando Caos
Durante o trajeto conversei com a minha esposa pelo celular e fui me inteirando dos detalhes da situação que me esperava em casa. Comecei a perceber que estava saindo de um caos e entrando em outro. Em menos de uma hora, repeti o mesmo movimento de girar a chave, desta vez para entrar em casa. Em tão pouco tempo, o mesmo sentimento de culpa, porém diferente... por não ter chegado em casa mais cedo.
Para resumir a história, os problemas foram resolvidos. Ao chegar no escritório, na manhã seguinte, a situação que eu deixara ao sair no dia anterior, deixou de parecer tão urgente, e lá também os problemas foram resolvidos.
Dilemas semelhantes são enfrentados diariamente em nossa vida executiva, e por mais pesquisas e estudos que existam a respeito, apenas o passar por essas experiências é que nos dão a verdadeira dimensão do peso desses dilemas.
Desenvolvendo âncoras
Uma das lições que aprendi foi da importância de desenvolvermos âncoras, que possam contrabalançar a pressão da âncora do trabalho. Uma delas é a família, o companheiro, a companheira, alguém que esteja a seu lado em todos os momentos.
Lembro-me de outro exemplo em que tivemos que fazer uma grande reestruturação, devido a uma virada inesperada do mercado, em razão da situação política e econômica enfrentada naquele momento. Um grupo de técnicos brilhantes tiveram que deixar a companhia e pude sentir as mais diversas reações de choque.
Os exemplos de maior desespero e de falta total de orientação ou direção, vieram daqueles que eram considerados os “workhoolics”, sendo os primeiros a chegar e os últimos a sair do escritório, mas principalmente, não tinham ninguém em suas vidas. O trabalho era a sua família.
Pude testemunhar isso pessoalmente, quando eu mesmo perdi o meu emprego e ver o que representou a minha família ao enfrentar esse tipo de desafio.
Outro tipo de âncora é o de desenvolver algo mais forte, seja do pondo de vista filosófico, espiritual, religioso, ou algo do gênero. Trata-se de um guia para as principais decisões de nossas vidas. Vai muito além de um hobby, ou uma atividade paralela. É um alicerce que no qual todo o restante será construído.
Propósito
Geralmente, com essa âncora, uma pessoa consegue responder à pergunta: “Qual o propósito de minha vida?”. Uma pergunta que, na realidade muitos têm medo de buscar a resposta, não sabem como fazê-lo, ou até nem se importam em respondê-la, sendo levados na vida profissional, por qualquer vento que sopre mais forte.
Testemunhei certa vez, o CEO global de uma grande companhia, ser impedido pela viúva de seu vice-presidente de adentrar no recinto onde o corpo de seu marido estava sendo velado. Soube depois que a companhia era o propósito mais forte da vida daquele executivo e a família não quis ver isso representado naquele momento.
Victor Frankl, o famoso autor do livro “Em Busca de sentido”, tendo passado pelos horrores dos campos de concentração na Segunda Guerra mundial, citou em seu livro: “Aquele que sabe o porque viver, consegue suportar quase todos os como” (grifos do próprio autor).
Visualização
Para mim, pessoalmente, o desafio sempre foi o de conseguir enxergar o presente, sob a dimensão do futuro. Espero que muitos possam enxergar isso antes de chegar nesse futuro. A razão é muito simples: as pressões atuais nublam a nossa vista do que vem anos mais tarde. Hoje, algumas coisas que em certos momentos eu achava de vital importância, ao olhar para trás, vejo que não o deveriam ter sido. Em muitas daquelas ocasiões, eu deveria ter tomado decisões diferentes.
É muito difícil tentar passar um “modus operandi” para isso, pois cada situação é extremamente diferente, mas vale aqui a sugestão da tentativa.
Se vermos as diversas áreas de nossa vida representada em círculos em uma tela de computador, estes poderão ter tamanhos diferentes, dependendo da prioridade que se dá a cada uma das áreas. Trata-se de decisões estritamente pessoais, nas quais não tenho nenhuma intenção de interferir.
O propósito desse artigo é de apenas levantar um alerta, para quando o círculo profissional começar a ter uma dimensão desproporcional, desiquilibrando todos os outros. Isto não se aplica a todos, mas quanto mais se progride na hierarquia profissional, esse círculo tende a ter um crescimento muito acelerado.
Em caso dessa situação estar causando algum incômodo, então algumas ideias podem ser aproveitadas desse artigo. Caso contrário, siga em frente com a sua vida, pois as escolhas são totalmente individuais.
Uma possível armadilha é a de não enxergar o potencial dano dessa situação.