Comportamentos abusivos - quais os limites da ética?
O jornal Valor Econômico publicou uma matéria sobre Jonathan Kaye, banqueiro sênior do banco de investimento Moelis & Co., que pediu demissão da empresa após um vídeo amplamente compartilhado, mostrá-lo agredindo uma mulher no bairro nova-iorquino do Brooklyn. As agressões foram graves, com sérias escoriações à vítima, que desmaiou e necessitou ser socorrida. Imediatamente, a foto do executivo foi excluída do perfil do banco.
Um episódio como esse, me levou a algumas ponderações. Quantas cenas semelhantes podem estar acontecendo pelo mundo, sem a sorte de serem filmadas e viralizadas? Como líderes com a aparência de serem moralmente sólidos desabam dessa forma? O que realmente significa ser ético?
Pelas observações em minha carreira, acho que há uma grande confusão verbal entre o SER ético e o ESTAR ético. Ser ético, é ter o alicerce baseado em princípios; é um comportamento à prova de ambientes, circunstâncias e pressões de todos os tipos. É constante e imutável.
Vou dar exemplos do apenas estar ético, de casos que conheci pessoalmente: um gerente de vendas muito comprometido com o Código de Ética mas, adaptável a práticas duvidosas em outros empregos. Um CEO muito preocupado com a lisura no tratamento com clientes, mas ao mesmo trazendo enormes passivos para a companhia, pelo seu descaso para com leis trabalhistas. Um VP Global de Recursos Humanos que em visita ao Brasil, envolveu-se em situações embaraçosas em suas saídas noturnas em São Paulo, e acabou pedindo demissão ao retornar aos EUA.
O estar ético, é uma posição muito frágil, pois é limitada a situações profissionais obrigatórias. No ser ético, não há limites de situações. Suas fronteiras são infinitas. Observei também que o estar ético tem um grande inimigo: o tempo. Pode demorar, mas infalivelmente o tempo revelará a diferença entre os dois tipos de verbos.
Lembro-me da instrução final dos treinamentos sobre ética na GE, que ultrapassava os conteúdos dos manuais: "Se restar alguma dúvida em uma situação específica, faça o teste final: Imagine este assunto sendo estampado na primeira página dos jornais do dia seguinte". Diante disso, decisão a ser tomada tornava-se clara.
Obviamente, um pensamento desses nunca passou pela cabeça de Jonathan Kaye. No entanto, em uma circunstância extremamente difícil, revelou-se que, antes do ocorrido, Kaye estava ético, mas provavelmente julgava-se ser ético.
Material para profunda introspecção de qualquer pessoa em uma posição de liderança. No tocante à ética, enquanto a grande maioria dos executivos não conjugar o verbo ser e não o estar, não há o direito de criticar personagens públicos que conjugam ambos os verbos no particípio passado.
Enfim, é grave o sério risco que correm todos os colaboradores que trabalham sob líderes moralmente frágeis. A prevenção é uma cultura de tolerância zero com qualquer tipo de comportamento abusivo, por menor que seja.